Não é nada fácil assistir à “Perto Demais”. Por mais que tudo pareça muito simples, não é. É um filme leve, em certo quesitos, mas bombástico, em outros, como a vida. O longa é tão realista que assusta. Susto esse que explica o desprezo da Academia, que só lhe deu duas indicações: melhor ator e atriz coadjuvantes (Clive Owen e Natalie Portman, respectivamente).
Adaptação da peça “Closer”, escrita pelo inglês Patrick Marber em 1997 e montada em palcos brasileiros em 2000, por Hector Babenco com o nome de “Mais Perto”, o longa é o vigésimo segundo da carreira brilhante de Mike Nichols (“Quem tem Medo de Virginia Woolf?” e “A Primeira Noite de Um Homem”), que tem como grande especialidade dramas focados nas relações pessoais e amorosas.
Fazer uma sinopse do longa é muito complicado, até porque temos somente quatro personagens, mas vou tentar: Larry (Owen) é um médico solitário que se casa com a fotógrafa Anna (Julia Roberts), sendo que o primeiro encontro deles foi armado pelo amante da última, Dan (Jude Law), um jornalista fracassado que por sua vez vive um romance com a bela Alice (Portman), uma stripper.
O grande destaque do filme é justamente seu elenco. Clive Owen está sublime, assim como Natalie Portman, que dá uma pureza impensável ao personagem mais duro da trama. Os dois se destacam tanto que até ofuscam um pouco os excelentes Jude Law e Julia Roberts. Law é o mais fraco dos quatro, mas com o show de interpretações presentes no longa isso não significa que ele está ruim, muito pelo contrário. Julia, por sua vez, faz ao lado de Owen a cena mais difícil do filme, quando Anna termina com Larry. Em uma cena de menos de 10 minutos, Roberts se destaca dramaticamente mais do que o faz nos 130 minutos de “Erin Brockovich Uma Mulher de Talento” (filme que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 2000).
Não posso deixar de destacar a trilha sonora montada por Steven Patrick Morrissey, que vai de Wolfgang Amadeus Mozart à Bebel Gilberto. A brasileira, filha de João Gilberto e Miúcha, empresta três sucessos de seu primeiro disco para a trama: “Mais Feliz”, “Tanto Tempo” e “Samba da Benção” (de Vinícius de Moraes e Baden Powell). Também se destaca na trilha a bela “The Blower`s Daughter”, de Damien Rice. Mike Nichols utiliza a música como forma de você se encantar com “Perto Demais” logo de cara, algo parecido com o que fez com “The Sounds of Silence”, de Simon e Garfunkel, em “A Primeira Noite de um Homem”.
“Closer” é um dos melhores filmes lançados em 2004, com certeza o melhor drama. Conta com diálogos extremamente bem bolados e, principalmente, plausíveis. O filme é basicamente só dialogo, quando acaba um começa outro. O mais interessante é que nesse período entre um diálogo e outro há sempre uma substancial mudança de tempo, um gol de placa do diretor e dos editores John Bloom e Antonia Van Drimmelen, que deveriam ter recebido uma indicação para o Oscar.
Não deixe de conferir, um filme, trocadilhos à parte, “perto demais” da realidade.
Fonte: Confraria de Cinema
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